segunda-feira, 12 de março de 2007

2. INCANDESCÊNCIA E RESFRIAMENTO

VAGANDO PELA URBIS, NO FLUXO DE SUAS ARTÉRIAS interagimos com poderosos currículos que estão nos afirmando comportamentos, atitudes e consumismo cultural.

A criticidade deve nos mobilizar para analisá-los e debatê-los, tentando garantir atitude pela liberdade e autonomia cidadã. Penso que tais questões devam ser garimpadas no cotidiano para serem lapidadas nos conteúdos, dando significação àquilo que tentamos promover em sala de aula.

Estamos todos em estado de aprendência. Os currículos culturais intercruzam nossos cotidianos enquanto estamos cidadãos, pais, mães, professoras, alunos e alunas, profissionais, filhas e filhos, dentro e fora da escola.

Vejamos a proposta de análise que desejo partilhar nesse espaço.

Enquanto abastecia o carro em um posto, na quinta-feira (aqui em Salvador) de carnaval, postura de observador malemolente, como quem deixa a cabeça recostar-se no apoio-de-cabeça, sem compromisso com o estado de vigília de minutos atrás, mas sem esmorecer ao interfluxo dos significados e significantes da paisagem,
surpreendi-me com imagens de consumo intercruzando esse espaço de significações.

Numa mesma parede do posto, disputavam a atitude consumista dos incautos motoristas ou, simplesmente, passantes, um pôster de energético, latas de cerveja empilhadas, advertência da empresa sobre som alto, advertência do Governo Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente sobre venda de bebidas a menores e uma faixa, mostrando o preço promocional de outra cerveja.

Inquietei-me com tal simultaneidade de informações, refletindo sobre como esse conjunto afetaria as nossas subjetividades.















Há um tensionamento ocorrendo nesse enquadramento: as advertências e proibições com a cena da balada do casal incandescente determinando sua atitude burn, por R$5,90, bem como, com as opções menos incandescentes e mais resfriadoras das cervejas de R$1,50 e R$ 1,20. Os incautos devem beber ali e ouvir som em outro espaço? Os comerciantes respeitam a legislação e têm consciência de que vender bebidas alcoólicas a menores é crime? “Posto de gasolina” deve comercializar bebidas alcoólicas? Os incautos devem consumir as promoções de bebidas alcoólicas e incandescer/resfriar com som em outro lugar, ou devem ali permanecer numa balada, como rola nas noites em inúmeros postos, transgredindo as normas do posto e as regras de convivência, pondo em risco suas vidas e as de outros tantos pelas ruas da soterópolis? Enquanto fotografava essa cena de significações para escrever sobre o tema, pensei na moçada bacana com quem interajo cotidianamente, pensei que a festa de Iemanjá tinha ocorrido 15 dias antes naquela região e que este era o primeiro dia de Carnaval, pensei também nas vezes em que incandesci/resfriei pelas ruas e postos... Recobrei a atenção para pagar ao frentista, que me observava com estranhamento.

Ao sair do posto, me desconcerto com aquilo que considerei o desfecho dessa reflexão: funcionários da prefeitura instalando baners criativos em postes ironizando as incandescências/resfriamentos.


















a profusão de questionamentos me tomou novamente: isso é ironia ou é campanha? Quem bebe em posto liga pra esses baners? E quem bebe em casa, bares e outros lugares, também liga? Será que pode ser falta de coragem para enfrentar os consumidores/transgressores que tornam as ruas e crêem que abaixo do equador, no carnaval da Bahia (poderia ser o do Rio) não há pecados? Esse tipo de advertência, sutil, irônica e até mesmo hipócrita, custeada com dinheiro público, tem alcance, transforma atitudes? Ou são vistas e admiradas por incandescentes/resfriadores em plena atividade, ironizando a ironia?

Nosso posicionamento crítico em relação a esses interfluxos dificulta agenciamentos impregnados de uma cultura de consumo sem compromisso com autonomia e liberdade, binômio fundante do desenvolvimento individual e social. A sala de aula deve ser um fórum permanente para esses debates.

Desejando partilhar tais inquietações e discutir cidadania, laser, consumo, cultura, currículo, entre tantas outras coisas, pus-me a escrever essa aventura na urbis soteropolitana.

Aguardo as interações!

12 comentários:

Luciana Abdon disse...

Zelinho´ssss,

Só queria ter sido sua aluna e poder desfrutar ainda mais da sua inteligência x]

Ler o que escreve - ou saber o que pensa - diminui a distância (mas é só um pouquinho... rsrs)

Saudades sempre! Abraços em todos aí!

Beijos e sorrisos, Lu =]

Yara Baruque disse...

-----zeLÃO

Acho que a sua reflexão mostra o currículo que nossa sociedade vive: paradoxos
Teoria e prática são dicotômicas.Integrar na complexidade é o nosso grande desafio como educadores/educandos, aprendentes e ensinantes.
Valeu companheiro!!!!
PS(para descontrair) No carnaval vc só ficou fazendo vistoria em postos de SSA? Ninguém merece...

Bjs

Anônimo disse...

Grande Zetene!
Realmente ler o que escreve,além de nos fazer reletir ,permite a interação do educador ,cidadão comum,com a galera (moçada bacana),com as coisas do cotidiano ,deste consumismo e desta mídia ,patética....presente em nossos dias!
bjos

Ró Siquara disse...

OLÁ CABEÇA!!!
Nossa, fico muito feliz com a ATITUDE da TEIA!! Rsrsrs! Acho muito interessante como você desnuda o cotidiano trazendo para os "ditos normais" a lucidez que só os loucos conseguem vislumbrar.Haja currículo!!
PS.Lucidez x carnaval??HUMMM!Só resta dizer:É o caraaaa!!!Rsrsrs!!!
Bjs,

marcelo correia disse...

É sempre bom entrar na rede e de fato se saborear com reflexões tão pertinentes e desequilibrantes.
Refletir sobre o nosso espaço vivido e concebido é uma tarefa diária que nos possibilita repensar também o nosso fazer pedagógico.
Obrigadooooo!!!!
Abraços bacanas (rsrsrs)

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Iaeee Zelussss...

Grande Zelus Amarelus (uahuahauhauhauhauh), muito legal essa iniciativa da Teia, e começou com algo bastante relevante.
Axo que o que vai levar os incandescentes/resfriadores a tomar uma atitude diferente é a experiência. Há até uma banalização da propaganda politicamente correta de tanto que nos é exposta, principalemnte em eventos como o carnaval.

Valeu, abraçãooo...
Marcos Santos (Miró)

Unknown disse...

Oi irmão ZTN falou e disse tudo !
Essa propagandas além de serem enganosas são patéticas !!
Sabe aquela ... "faça o que o eu mando, mais não faça o que eu faço " no Outdoor ?!
Beijão sua irmã Marise !

Unknown disse...

Zelão, bela atitude a sua: criar este espaço! Ao ler o seu texto, caí na sua teia-armadilha, pois, sinto-me entrelaçada ao mesmo fio, o fio do tempo, dos espaços, da cultura, enfim, o fio da vida que também anda por um fio!
Como tem sido desafiador lidar com o contexto descrito por você em todos os lugares (falo da grande São Paulo) onde atuo como professora.
Como aprendentes nos resta observar mais e nos perguntar sobre o que estamos fazendo e dizendo, não só para nossos alunos, mas, para nossos filhos. Como educadores a nossa responsabilidade é descortinar o real, inquietar, desequilibrar...
Beijos!

Mary Rita disse...

Zelão,

Teus "encucamentos" não diferem muito dos meus!!! Mas, ando relaxando, e me pondo em fuga no meu abrigo distante da "urbis"!!!Ando cansada da falta de compostura, de educação, de saúde, que graça nesse país!!! De Ética então nem se fala!!! Tudo isto já me somou uma proibição médica até de dirigir!!!! Que fazer?? Ainda bem que você está aí, formando gente de bem!!! Beijos

Mary Rita disse...

Desculpe o erro...queria escrever, "grassa"....beijo

Anônimo disse...

necessario verificar:)